A terrível busca pelo normal

Matar os recém nascidos considerados imperfeitos, por terem alguma característica fora do comum. Esta é uma atitude considerada normal há algum tempo em várias civilizações e ainda hoje em algumas poucas. Duas pessoas lutarem no centro de uma arena até a morte também já foi considerado normal. Será que um dia as lutas que hoje consideramos normais serão vistas como algo brutal? Há alguns anos, homem que não fumava cigarro poderia ser considerado uma pessoa fora do normal. O que hoje é se sentir anormal?

Resumo: O que é normal ou não é identificado por cada um de maneira diferente, com base em suas crenças, ou seja, o conjunto de convicções que forma as ideias do que parece certo ou errado. Mas o que parece normal pode nem sempre ser o melhor para si.

Normose

Normose significa “um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida”. É o que afirma psicólogos e o livro homônimo, de autoria dos franceses Jean-Yves Leloup, e Pierre Weil, e do brasileiro Roberto Crema, publicado em 2003.

A busca pela normalidade é exatamente o sinônimo para mediocridade. Isso por que o significado da palavra medíocre é justamente “estar na média”, “sem criatividade”, “ordinário”. Estamos buscando o tempo todo pelo que é mais familiar, mais confortável. Porém a felicidade, seja ela leveza, adrenalina, emoção, música, está justamente naquilo que sai do normal, Se imaginássemos um gráfico, teríamos uma linha horizontal representando o normal, mas são nos momentos de pico que nos sentimos mais alegres e nos vales que nos sentimos tristes. Imagine aquele gráfico que representa os batimentos cardíacos. Ninguém quer que ele fique em linha reta, na normalidade, sem se movimentar.


Normose, que, segundo o autor brasileiro: “ocorre quando o contexto social que nos envolve caracteriza-se por um desequilíbrio crônico e predominante”.

É muito comum hoje em dia acreditar que o trabalho e a geração de renda podem justificar a falta de tempo para si ou para a família, é comum desejar saúde para continuar trabalhando e não para desfrutar ou cuidar bem de si e dos seus. Mas seria isso realmente produtivo? Para saber isso pergunte-se: o que algo tão normal produz, que resultado, qual o objetivo ou propósito de tudo isso?

Convicções

Não nascemos nem mesmo com instintos de sobrevivência formados. Uma criança pode achar que uma onça é um gato e até tentar abraçá-lo. Porém o nosso subconsciente decide por nós, rápido e automaticamente, tomando como base as Convicções que criamos. Convicção é um posicionamento firme com relação à defesa de uma determinada ideia, é aquilo que você acredita, sendo verdade ou não, sem questionar, pois já está aceito como absoluto.


As convicções são formadas sem que nos demos conta. E elas direcionam nossas ações de maneira involuntária. Nós repetimos isso constantemente e isso influencia nos nossos resultado, nossos hábitos e decisões, direcionam nossas ações sem que nos demos conta, alheia a nossa vontade e permanecem ativas mesmo contra nossa vontade. Um artigo publicado por um pesquisador da Duke University em 2006 descobriu que mais de 40% das ações que as pessoas realizavam todos os dias não eram decisões de fato,mas sim hábitos. Estes hábitos, por sua vez, não são questionáveis pois são fundamentados na convicção de que são seguros e funcionam. As convicções são os parâmetros e os hábitos é o piloto automático que adota estes parâmetros para decidir e executar as ações. Essa é uma das razões pela qual é tão difícil mudar hábitos, personalidade ou a forma de vida.


Trabalhar muitas horas, colocar em risco sua saúde e suas relações, como casamento, ou com os filhos é normal? Assim 'ser normal' basta para justificar algo que trás prejuízo para sí e para os mais próximos?

Mas então?

Nosso esforço é voltado para corrigir os efeitos, mas ignoramos as causas desses efeitos. Por que nós voltamos, depois de pouco tempo, ao estágio anterior. Por que pelo menos ali, já estivemos, é de lá que viemos, e acabamos nos convencendo que faz parte da nossa essência, por mais ruim que seja. E por que é tão importante a sua essência, a proteção das suas convicções em segurança se elas te prejudicam? Sempre que tentamos fazer alguma coisa diferente nos afastamos da zona de conforto, daquilo que conhecemos, do que já fizemos ou vimos outros fazerem. Mas realizar apenas repetições pode até aprimorar o que você já sabe, porém não pode mostrar coisas novas, novas emoções, novas conquistas.


Mas antes de se aventurar questione-se sempre se o que não parece normal irá te levar para o caminho do bem, do que é realmente bom para você ou não. Não entre na armadilha de encontrar apenas justificativas que lhe auxiliem a confirmar aquilo que quer mais sabe que não deveria fazer, pois pode prejudicar alguém, incluindo você.


Nada mais longe da sabedoria do que da convicção.Nada mais sábio que o questionamento. Ninguém mais feliz que o explorador aprendiz. Normal não é sinônimo de certo ou errado é apenas uma percepção da realidade baseada naquilo que você considera mais familiar.

Por: Leonardo LimaData: 10/06/2022
Fontes
De Propósito (link)
O óbvio que ignoramos
Normose